Com diferentes ações, Estado apoia luta de mulheres para conquistar objetivos de vida 30/03/2023 - 12:13
Uma cooperativa de costureiras de Roncador, no Centro-Oeste do Paraná, permitiu a um grupo formado por 11 mulheres dar um salto na vida, sair da condição de vulnerabilidade social e conquistar renda, autonomia e bem-estar à família. A alavanca foi o projeto Inclusão Social Solidária, uma ação do programa Nossa Gente Paraná, do Governo do Estado.
Tudo aconteceu na pacata Alto São João, na área rural do município, palco do exemplo de como alguns apoios na vida podem transformar gerações. Em 2021, as mulheres conheceram o programa desenvolvido pela Secretaria do Desenvolvimento Social e Família (Sedef) e o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), que tem como objetivo geração de trabalho e renda.
Elas costuravam de maneira individualizada e a partir de capacitações formaram um grupo profissional com um novo formato de atividade econômica, ganhando recorrência e sustentabilidade econômica, fugindo da espera, muitas vezes solitária, por algum novo cliente.
O modelo foi desenhado na fase de montagem, na qual os técnicos do Estado viram que indústrias do setor de confecções de Umuarama adotavam serviços de costuras terceirizados. Após diversas reuniões com representantes locais, foi decidido que o projeto da cooperativa de costureiras seria baseado nessa modalidade, unindo duas potências paranaenses: a coletividade e a área têxtil.
A cooperativa começou a funcionar no início de 2022 depois que o Estado investiu R$ 36 mil para a compra de máquinas de costura e ferros de passar. A prefeitura de Roncador cedeu o espaço e coordenou a reforma do local, realizada com a ajuda das mulheres.
Atualmente a pequena empresa, que trabalha com costura terceirizada, produz 600 frentes de calça jeans diariamente. Valdirene Aparecida Slobodjan, Dulcilina de Almeida Jorge e Gracieli Miranda de Goes são exemplos de como iniciativa públicas impactam as vidas das mulheres.
“Eu nunca tinha trabalhado. Aqui no Alto São João não tinha emprego, não tinha como ir atrás de renda. Com esse projeto, hoje tenho meu dinheiro, consigo comprar minhas coisinhas, tenho muito orgulho do meu trabalho porque sei das barreiras que foram enfrentadas para estarmos aqui”, diz Gracieli, de 32 anos. “É uma coisa que não conseguiria sozinha”.
“Eu era muito depressiva, ia toda semana no médico, tomava remédio. Agora, quase não tomo mais, estou reduzindo bastante, passei a encarar a vida de outro jeito. Eu venho pra cá, costuro, penso no que tenho que fazer aqui, vou pra casa e já tenho que arrumar as coisas pro outro dia. Eu tenho muito orgulho do meu trabalho”, relata Dulcilina, de 46 anos, uma das mais veteranas.
Valdirene conta que antes de começar a trabalhar passava o dia em casa. “Terminava as tarefas e depois ficava sem fazer nada, mas também sem independência. Hoje eu sou outra pessoa, me sinto renovada, tenho orgulho em trabalhar aqui e com essas pessoas, minhas amigas. Tenho meu dinheiro e posso comprar as coisas que meu filho pede”, comemora.
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SUPERAÇÃO DA POBREZA – A vida dessas mulheres é marcada pela superação da pobreza. Com o Nossa Gente Paraná, milhares de mulheres são atendidas de maneira direta ou indireta com acesso à moradia, à rede de abastecimento de água local, matrícula escolar do filho, matrícula em EJA, concessão de benefícios diretos, inclusão em curso de qualificação profissional, encaminhamento a vaga de emprego formal ou regularização fundiária do imóvel.
Coordenado pela Sedef, o programa reúne ações de diversas outras secretarias estaduais, como saúde, educação, habitação, saneamento e agricultura, e conta com a parceria dos municípios. Os dados reunidos desde o começo do Nossa Gente mostram que as mulheres são maioria entre quem busca apoio. Elas representam a maior parte (55%) de todos os atendimentos diretos e dos núcleos familiares (94% das 30 mil famílias beneficiadas), além de terem recebido 80% das unidades habitacionais do Requalificação Urbana.
Outro indicador é o do Cartão Comida Boa, voltado à população em situação de vulnerabilidade e que auxilia a composição de renda, garantindo, principalmente, a segurança alimentar das pessoas. De dezembro de 2021 a fevereiro de 2023, o Cartão Comida boa beneficiou 270 mil famílias, sendo que 78% delas tinham mulheres como chefes do núcleo. As mulheres também são titulares da conta de 63% das famílias paranaenses beneficiadas pelo programa Energia Solidária, que garante tarifa social para a população de baixa renda.
Essa é uma realidade nacional. No Bolsa Família, programa de transferência do governo federal, a ampla maioria dos lares tem uma mulher como responsável familiar. Na folha de pagamento de março, 81,2% dos benefícios concedidos foram liberados em nome das mulheres. Foram 17,2 milhões do total de 21,1 milhões de famílias beneficiárias.
Para o secretário do Desenvolvimento Social e Família, Rogério Carboni, cuidar dessas mulheres é dever do Estado. “Elas muitas e muitas vezes são o esteio das famílias, as líderes, aguentam todos os problemas. São elas também que vão atrás de uma vida melhor não apenas para si, mas também para os filhos. Elas estão ganhando novos espaços na sociedade, mas os números mostram que as mulheres são as que mais participam dos programas e ações que buscam a redução das vulnerabilidades”, destaca.
“Nós precisamos levar esses dados em consideração na estruturação de novas políticas. No Paraná, a meta é reforçar o Nossa Gente e, como política multissetorial, o Governo está investindo na redução dos desequilíbrios de IDH entre os municípios, as faixas etárias e os gêneros. Dessa maneira vamos construir políticas muito mais assertivas”, complementa.
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CASA PRÓPRIA – Outro exemplo de apoio aconteceu com Denise Aparecida dos Santos, de Prudentópolis, a três horas de viagem de Roncador, que abraçou a oportunidade de reescrever a própria história com o Nossa Gente Paraná, mas na vertente Requalificação Urbana. Esse projeto auxilia famílias, principalmente com mulheres como arrimo de família, conforme lei estadual, a conquistarem a casa própria.
Denise sempre sonhou em ter um terreno com seu CPF, mas, a exemplo de milhões de mulheres brasileiras, teve uma vida difícil, com poucas oportunidades e, por falta de dinheiro, chegou até mesmo a se prostituir.
Sua infância não foi das mais tranquilas. Ela foi entregue ainda bebê a uma outra família, foi criada num ambiente que não era o seu e foi tentando achar os caminhos da vida com o que a vida lhe entregava. Ela teve seis filhos e sempre buscou um abrigo seguro para si e os pequenos, combustível que movia seus dias.
Os anos se passaram e ela morou um período em Curitiba. A saudade, no entanto, apertou, e ela retornou a Prudentópolis, onde a filha mais velha ainda morava. Nesse período também se reaproximou da família biológica e ali começou a buscar um capítulo definitivo.
Ela começou a frequentar as reuniões de acompanhamento com técnicos da prefeitura e da Cohapar, que fazem buscas ativas para mapear os investimentos necessários para a construção de casas para famílias muito vulneráveis, colocou seu CPF na lista e depois da realização de obras que deram origem a uma nova vila ganhou um lar com toda a infraestrutura garantida.
“Na época eu não queria ter saído de Curitiba, vim contra a vontade, mas foi o que mudou a minha vida. Eu precisei vir para ganhar a minha casa que eu sonhei em ter a vida inteira”, afirma. “O programa, na verdade, salvou minha vida. Não fosse isso, não sei onde eu estaria hoje. Quando a gente fica indo para vários lugares, não sabemos o que pode acontecer com a gente, mas estar aqui, em Prudentópolis, é uma forma de redenção”.
Ela também escreveu seu livro, já à venda como ebook, para dividir essa história com mais pessoas. “Por meio dele, quero que muitas outras mulheres possam mudar de vida. Existe uma rede de apoio que pode ser acessada e que transforma vidas”, finaliza.